Il segreto è...
Quando estava no Porto e tinha de fazer todos os fins de semana o trajecto de carro Porto-Aveiro-Porto, eu era feliz. Entrava no meu carro, punha os meus CDs a tocar e como já sabia a estrada de cor, era sempre a andar. Mas só quando fiquei sem carro e deixei de ter de fazer este trajecto, é que me apercebi de quão imprescindíveis eram essas duas horas por semana para mim. Tudo porque aproveitava para cantar energicamente e a plenos pulmões, podendo assim libertar a tensão acumulada pela semana de trabalho, mas também para pensar. Pensar muito. Decidi imensas coisas naquelas horas de carro pela auto-estrada fora, ás vezes já de madrugada ou então muito cedo pela manhã, e para já acho que não foram más de todo!
Nos últimos três anos não tive muito tempo para pensar. Ás vezes na ginástica enquanto corria no tapete rolante ou no comboio enquanto ia para as minhas visitas às empresas pela Catalunha fora. Mas acho que não obtive os mesmos resultados.
No entanto, nos últimos tempos, descobri uma nova maneira de entrar outra vez nesse estado hipnótico e meio apático que me permite pensar calmamente e friamente em certas coisas. Assim, quase todos os dias, porque ás vezes chove e não me apetece, tenho saído de casa para andar de bicicleta.
Saio de casa. Luvas. Gorro. Auscultadores. Acção!
Frio. Play. Pedalo.... e penso...
Pedalo. Mudança 2. Pedalo.
Tutto questo tempo a chiedermi cos'è che non mi lascia in pace.
Tutti questi anni a chiedermi se vado veramente bene così, come sono, così.
E la verità è che ho aspettato a lungo qualcosa che non c'è.
Invece di guardare il sole sorgere..
Semáforo. Paro. Pedalo. Passo. Pedalo. Mudança 3.
Noite é querer. É poder. É disfarce. É deixar para trás e largar
Festa é gritar. É ganhar. É correr.
É fugir demais
... fugir demais...
Pedalo e penso na semana passada. Nas fotos e nos passeios a pé pela cidade com o Alberto. Até nem fui uma má assistente de fotógrafo. Fiquei com os pés e as mãos congeladas de esperar imóvel e ao frio pelas fotos aos edifícios, à relva, com luz, sem luz, fotografias de um segundo, de um minuto e meio que se repetem aos três e seis minutos, enquanto eu seguro na bolsinha do tripé e no visor, nos rolos e no gorro do artista. Penso que para tudo é preciso paciência. Que enquanto eu fiz trinta fotografias com a minha máquina digital, ele fez duas com a máquina dele. Que onde eu via uma árvore, ele via a sombra da árvore projectada num placard de publicidade. Penso que as fotos vão sair estupendas. Porque ele merece. Porque se esforçou. Porque eu me esforcei e apanhei frio. Porque sim. Tenho a certeza.
Paro. Espero a ponte que se levanta e o barco que passa. Canto.
E miracolosamente non ho smesso di sognare.
E miracolosamente non riesco a non sperare...
Pedalo e penso. Penso no dia de hoje na biblioteca. Que foi bom encontrar uma secção inteira de livros escritos em português. Livros de escritores portugueses importantes e não só. Penso que tenho de ler mais. Que sei muito pouco de tudo. Que não sei nada e gostaria de saber mais. Penso que ter pouco tempo é uma desculpa. Que há duas semanas que não vejo televisão e que terminei o único livro que trouxe para ler. Penso que fiquei angustiada quando o terminei. Não esperava que fosse assim. É um livro imprescindível. Penso que tenho de ler mais livros imprescindíveis.
Pedalo. Viro. Sempre em frente. Canto. Pedalo forte. Mudança 3, 4..
Can you turn me off for just a second, please
Turn me into something faceless, weightless, mindless, homeless
Vacuum state of peace
Wait for me, I'm nothing on my own
I'm willing to go on, but not alone, not now
I'm so aware of everything, but nothing seems for real and
As long as you're in front of me then
I'll watch the fingers of our hands
And I'm grateful that it's me
Holding on and on and on and on and on and on and on and on and on and on
I believe in me...
Pedalo. Pedalo. E penso. Penso que é verdade. Que tenho os óculos sujos.
Che se c'è, un segreto è: fare tutto come se vedessi solo il sole..
Penso no Porto, em Barcelona, em Itália, nos meus amigos perto e nos meus amigos longe. Nos meus amigos de hoje e naqueles que deixei para trás. Naqueles que falam as mesmas palavras que eu e naqueles que as dizem de um modo diferente mas que no fundo significam o mesmo. Penso nas músicas todas que ouvi na minha vida e naquelas que ainda não conheço, porque não tenho tempo, porque não consigo ouvir tudo ao mesmo tempo. Nos livros que li e nos que ainda não li, nos que quero ler agora, nos que quero saber de cor, de memória. Penso nas casas da minha infância e nas minhas botas amarelas enterradas na lama da casa dos meus avós. Penso no meu cão novo e no meu cão que já morreu.
Penso em tudo o que estudei e que já esqueci e que por isso queria estudar tudo de novo. Penso no que digo e no que ainda não disse. Penso que queria ser cientista. Penso nos filhos das minhas amigas. Que preciso de estar só para escrever. Penso no que estou aqui a fazer. E penso em tudo o que tenho para fazer. Penso em todas as minhas casas. Penso que já não sei onde é casa. Penso que não é verdade. Penso que não sou uma cidadã do mundo. Penso que sou de Aveiro, que o meu primeiro namorado se chamava Pedro e que me acompanhava a casa todos os dias depois da escola. Penso no campo de malmequeres amarelos que existia por trás da casa dos meus avós e na farinha de pau que a minha avó preparava ás vezes. Penso que tenho frio. Que estou cansada. Que quero chegar a casa depressa.
Penso que se um dia me pedirem para cantar o Grândola Vila Morena eu não sei a letra toda de cor. Que tenho de ir ao Alentejo. Que não conheço nada do meu país. Que sou um zero a História, Geografia, Literatura e a uma série de coisas.. Que me apetecia comer um caldo verde e um chouriço assado. Penso em Siracusa. Penso no meu projecto pessoal. Penso que não sei se sou capaz. Penso que já fiz tanto e que não fiz nada. Penso que não consigo chegar a todos como queria. Que nem sempre digo o que quero. Que nem sempre sou como desejo.
Penso que sou como sou e não há nada a fazer.. mas que podia ser melhor!
Pedalo. Lembro-me do verão. Canto. Tenho frio.
Esse papo meu tá qualquer coisa
E você tá pra lá de Teerã..
Pedalo. Penso nos presentes de natal. Danço.
Eu quero tocar fogo neste apartamento.
Você não acredita.
Tem que saber que eu quero é ir-me embora.
Eu quero dar o fora.
E quero que você venha comigo...
Todo o dia, todo o dia...
Pedalo. Pedalo. E penso.
Penso que é verdade. Que estou cansada. Mudança 3, 2..
Parole, parole, parole...
Paro. Encosto a bicicleta. Apago as luzes e ponho o cadeado.
Tiro as luvas. Tiro o gorro. Abro o casaco. Calor.
Limpo os óculos. Entro em casa.
Stop.
4 Comentários:
A parte do teu primeiro mamorado se chamar Pedro deixou-me a pensar... enfim... ele há coisas inexplicáveis... mas gostei do texto... são coisas que saem não se sabe bem de onde mas que vêm tão de nós que deixam quem lê com a sensação de querer escrever assim, ou neste caso, descrever assim tanta coisa ao mesmo tempo.
gostei mesmo
zé
Obrigada. Ainda bem que gostaste.
E ainda bem que ficaste a pensar.. pensar faz bem..
"Pensar faz bem", sim.
E ainda bem que conseguiste adquirir ao longo deste teu percurso, tantas coisas boas para pensares e para
lembrares.Porque as más, essas, não deixes que ocupem espaço no teu pensamento.
questo è certamente il post che mi colpisce di piu'.sembra essere un periodo di cambiamenti che si riflette
sullo stato d'animo
e ti da una irrequetezza che penso ti aiuti a sentirti viva.le scelte importanti sono le piu' dure e spesso scegliere significa anche un po' perdere.grazie per il commento e grazie per avermi introdotto a questa pratica del blog.bella l'dea di avere una specie di diario di bordo che in maniera piu' o meno regolare ci si impegna a compilare , bello poter lincare sui nomi e seguire o semplicemente approvare l'iniziativa pseudo-letteraria di qualcuno.hai ragione tu la bossa mi cattura e la lingua è la piu' bella del mondo.spero di poter scrivere senza errori qualcosa in portoghese.per ora il mio ochio registra la grafia e cerca di memorizzare.boa tarde!
fabio.
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