E aqui estou eu, em Roterdão. Cheguei há duas semanas e depois de alguns dias de descanso na companhia do ragazzo, em Amesterdão e em Paris, e do primeiro post sobre a cidade, fiquei por minha conta.
Para já, tenho ficado bastante por casa. Assustada talvez com a chuva e com o frio, habituada que estava eu ao sol e ao calor de Barcelona. A verdade é que em Portugal, no norte (carago!), o clima é bastante como aqui. Mas é muito fácil uma pessoa habituar-se ao calor, ainda que eu goste mais do frio. Assim que, ainda que esteja aqui há pouco tempo, já deu para perceber que uma das primeiras coisas que se nota bastante diferente (para quem vem do sul, claro), é o clima. Rapidamente percebi que o meu casaco, ainda que super quentinho, de pouco servia para a chuva assim como as minhas luvas, chapéu, e afins. Realmente, a única coisa em que acertei foi nas botas: quentinhas, cómodas e impermeáveis. Mas mesmo assim não resisti a comprar umas botas de borracha vermelhas como as que eu tinha quando era pequenina (ainda que fossem amarelas!). Só porque são estupendas! Depois, inevitavelmente, tive de comprar um casaco. Três banhos na bicicleta e um casaco ensopado foram suficientes para tomar a decisão!
Às vezes ainda sinto que aterrei aqui de pára-quedas. Ou seja, um dia estou numa cidade barulhenta, quente, húmida, onde trabalho a um ritmo frenético, todos os dias, metro, autocarro, comboio, comer de tupperware no banco do jardim, sair tarde e chegar ainda mais tarde a casa, e no outro a seguir estou numa cidade silenciosa, limpa, organizada, fria e chuvosa, onde não faço nada e tenho todo o tempo do mundo para me levantar, tomar um café (ainda que não leia o jornal!) e fazer o que me apetece. É no mínimo confuso!
Não é uma cidade difícil, penso eu. À parte um pouco a língua mas até essa, se fizermos um esforço para entender metade da palavra que se parece ao italiano e a outra metade ao português, é uma dificuldade ultrapassável. No final de contas, um expresso, um cappuccino, wc, help, são palavras internacionais e com o inglês tudo é possível. E essa é outra coisa: todos falam inglês! Mais ou menos. Eu também. Perfeito! Entendemo-nos todos! No outro dia entrei num café pequenito, grego, assim um pouco para o estranho, e fiquei um pouco assustada ao início quando perguntei “do you speak english?” e o senhor, super simpático, respondeu “no, no, well, yes, a little bit”. Pensei logo como é que agora eu saio desta. Mas não é que ele começou a dizer a lista toda das coisas que tinha, se queria com maionese ou sem, de onde é que eu era, ah que giro, interessante, de Portugal, e por aqui?, que simpática, etc.... e eu pensei que para little bit o homem até se safava bem!!!
Depois porque é uma cidade silenciosa, calma, verde, com água e jardins por todo o lado, pontes que se levantam a cada instante, cheia de batatas fritas e de bicicletas!! Centenas de bicicletas, estacionadas por todos os lados, com cadeado, ou sem cadeado, com bolsas ou cadeirinhas para bebés, com cestinho, sem cestinho, enfim, de todos os feitios e cores possíveis e imaginárias. Eu também tenho uma, emprestada mas pronto, serve! Mas o mais curioso é que, ao contrário de Barcelona, onde a nova lei de civismo impede estacionar as bicicletas em todo o lado, andar de bicicleta com os auscultadores postos, pelos passeios, etc., aqui simplesmente parece que se estão a borrifar para isso. Quer dizer, não é bem assim. Tenho quase a certeza que aqui também existe uma lei que proíbe prender a bicicleta aos postes e andar com ela pelos passeios ou sem luzes (eu no outro dia até fui alvo de uma super operação stop porque não tinha as luzes postas!) mas não sei, não vejo tanto stress por causa disso. Cumpre-se e já está. Raios! Está-se lá agora a discutir! Se calhar o que acontece é que estas regras já estão tão interiorizadas que quase ninguém as põe em questão. E em Barcelona ainda estão a começar. Pode ser. Não sei. Também não quero estar sempre a comparar uma cidade com a outra, até porque nem posso e nem devo. Mas parece que aqui existe um sentimento de organização interiorizado e contagiante que te permite cumprir tudo de uma forma descontraída e desinteressada, sejas quem sejas e venhas de onde venhas. Sem stress!! Se virmos bem isto até é bastante comum. Por exemplo, as pessoas do sul da Europa, ou de países menos organizados, sejam do sul ou não, quando se deparam com organizações deste tipo, cumprem as regras todas sem reclamar mesmo que no seu país de origem façam o contrário. É ou não é verdade?
E exemplo disso é aqui o ragazzo, que no sul, Maria!!!, venha quem venha, ele é ultrapassar em linha contínua, é estacionar em dupla fila, é a 100 em estrada com limite de 50, enfim, e aqui é todo super cumpridor “Ahhhh!! Estás em sentido contrário com a bicicleta!!”, “olha que te fazem uma multa se andas com a bicicleta em cima do passeio”, “Ahhh! Não ponhas a bicicleta aí que não se pode!!”. Que stress!!
Enfim. Mas aqui ainda há mais coisas interessantes. Por exemplo, parece impossível que seja verdade que os carros vão devagarinho na cidade e portanto param para te deixar passar, que o carril para bicicletas esteja por toda a cidade e que haja estacionamentos para bicicletas em todo o lado. Também não parece possível que possas levar a bicicleta contigo no comboio ou no tram sem que as pessoas te olhem de lado ou que as pessoas não sejam exageradas e por isso não andem por todo o lado de capacete na cabeça!!! Não sei se são os catalães os exagerados ou estes os desmazelados, mas parece-me que este pode ser um interessante ponto de discussão.
Depois toda a questão de Roterdão ser a segunda cidade dos Países Baixos (e não Holanda como erradamente se diz, vejam lá na wikipédia se tenho ou não razão) assim como o Porto ou Barcelona, mas a verdade é que é o maior porto marítimo do mundo! É uma cidade dura e fria, escondida, onde a beleza não salta logo à vista.. come piace a me!! Penso até que comprarei um livro sobre a cidade porque me interessa bastante o facto o de ser uma das cidades de arquitectura mais moderna do país, e por isso bastante diferente de Amesterdão, devido à destruição do seu centro pelos alemães em 1940 numa só noite.
Resumindo, estou a gostar da cidade, é interessante e curiosa, e estou a aproveitar esta pausa prolongada para descansar, para aterrar em mim. A preguiça, o sono e o cansaço acumulado ás vezes ganham e eu fico em casa, até porque às cinco da tarde já é escuro. Outras vezes saio e dou grandes voltas a pé ou na minha bicicleta. Apanho grandes molhas e congelam-se os meus dedos, mas isso fica para um próximo post.
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