sem título
Entro frequentemente em livrarias. Em qualquer livraria. Às vezes só para passar tempo. Qualquer tipo de tempo. O tempo que se passa enquanto se espera um amigo, a hora da consulta, que a chuva pare, que passe aquela senhora amiga da avó que cada vez que nos vê nos aperta as bochechas como quando tinhamos 3 anos, o tempo que não se tem mas que se estamos na livraria não faz mal, enfim... o tempo... normal e curriqueiro!
Então. Hoje entrei numa livraria. Mas não gostei de nenhum livro. Primeiro porque estavam mal dispostos assim como um pouco desorientados. Sem cor, tristonhos, saudosos daquela empregada que provavelmente os colocava correctamente organizados nas prateleiras. Pedi-lhes desculpa. Disse que não era nada pessoal mas que hoje simplesmente não tinha paciência para os aturar. Olharam-me um pouco de lado, eu vi, e percebi, e ouve até um que me chamou snob. Não levei a mal. De vez em quando os livros são assim. Mas pronto, cada um tem a sua vida, o seu carácter, e quanto a isso não há nada a fazer.
Pois bem. No sábado passado entrei numa livraria. Vi tudo nebulado e comecei a sentir-me meia perdida no meio de tanto livro. Pensei logo em sair. Mas com um movimento rápido e inconsciente, sem olhar, penso eu numa tentativa para salvar a situation, peguei num livro. Fiz logo aquela minha expressão de esgar quando li o título "Filosofia: nuove istruzioni per l'uso" de Ermanno Bencivenga. Brrrr. Este não. Mesmo assim, movida por sei lá que força estranha, abri e li a primeira frase: "Sara (nove anos) descobriu naquele instante que o Pai Natal não existe e está a tentar convencer Tomás (dois anos mais novo) a acreditar nesta inquietante verdade". Ok. Considera-te comprado, disse eu ao livro. Não sei porquê mas gostei desta abordagem a um tema filosófico. Quando me dirigia para a caixa, vi alguém que pegava num livro. "Treno di notte per Lisbona" (comboio de noite para Lisboa), de Pascal Mercier. Não, não. Não vou deixar que as minhas saudades de casa me deturpem a mente. Nem que me façam parecer ridícula por querer comprar ou ler todos os livros que tenham alguma palavra relacionada com portugal, casa, saudade ou afins. Mesmo assim, ainda sob o poder da estranha força, tirei-lhe o livro das mãos e abri-o. Li em português (estava traduzido por baixo): "cada um de nós é vários, é muitos, é uma proxilidade de si mesmos. Por isso aquele que despreza o ambiente não é o mesmo que dele se alegra ou padece. Na vasta colónia do nosso ser há gente de muitas espécies, pensando e sentindo diferentemente." Fernando Pessoa. Gostei. Gostei muito. Não tenho culpa. Soube-me bem abrir aquele livro em italiano e ler aquelas palavras tão sábias do nosso Pessoa. Desculpei-me com os outros livros, que entretando já se tinham começado a agitar e a dizer que pois, não pode ser, levam sempre aqueles acabados de chegar, os mais novos e frescos, os mais simpáticos, não há direito... arre... tó bicho... não há carteira que vos aguente e paciência que vos ature...
Então. Hoje entrei numa livraria. Mas não gostei de nenhum livro. Primeiro porque estavam mal dispostos assim como um pouco desorientados. Sem cor, tristonhos, saudosos daquela empregada que provavelmente os colocava correctamente organizados nas prateleiras. Pedi-lhes desculpa. Disse que não era nada pessoal mas que hoje simplesmente não tinha paciência para os aturar. Olharam-me um pouco de lado, eu vi, e percebi, e ouve até um que me chamou snob. Não levei a mal. De vez em quando os livros são assim. Mas pronto, cada um tem a sua vida, o seu carácter, e quanto a isso não há nada a fazer.
Pois bem. No sábado passado entrei numa livraria. Vi tudo nebulado e comecei a sentir-me meia perdida no meio de tanto livro. Pensei logo em sair. Mas com um movimento rápido e inconsciente, sem olhar, penso eu numa tentativa para salvar a situation, peguei num livro. Fiz logo aquela minha expressão de esgar quando li o título "Filosofia: nuove istruzioni per l'uso" de Ermanno Bencivenga. Brrrr. Este não. Mesmo assim, movida por sei lá que força estranha, abri e li a primeira frase: "Sara (nove anos) descobriu naquele instante que o Pai Natal não existe e está a tentar convencer Tomás (dois anos mais novo) a acreditar nesta inquietante verdade". Ok. Considera-te comprado, disse eu ao livro. Não sei porquê mas gostei desta abordagem a um tema filosófico. Quando me dirigia para a caixa, vi alguém que pegava num livro. "Treno di notte per Lisbona" (comboio de noite para Lisboa), de Pascal Mercier. Não, não. Não vou deixar que as minhas saudades de casa me deturpem a mente. Nem que me façam parecer ridícula por querer comprar ou ler todos os livros que tenham alguma palavra relacionada com portugal, casa, saudade ou afins. Mesmo assim, ainda sob o poder da estranha força, tirei-lhe o livro das mãos e abri-o. Li em português (estava traduzido por baixo): "cada um de nós é vários, é muitos, é uma proxilidade de si mesmos. Por isso aquele que despreza o ambiente não é o mesmo que dele se alegra ou padece. Na vasta colónia do nosso ser há gente de muitas espécies, pensando e sentindo diferentemente." Fernando Pessoa. Gostei. Gostei muito. Não tenho culpa. Soube-me bem abrir aquele livro em italiano e ler aquelas palavras tão sábias do nosso Pessoa. Desculpei-me com os outros livros, que entretando já se tinham começado a agitar e a dizer que pois, não pode ser, levam sempre aqueles acabados de chegar, os mais novos e frescos, os mais simpáticos, não há direito... arre... tó bicho... não há carteira que vos aguente e paciência que vos ature...
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