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my red valentine

"per i bambini dell'asilo ci sono delle caramelle istruttive: hanno il gusto della fragola, dell'ananas, del ratafià, e contengono alcune facili poesie.." gianni rodari

20 de agosto de 2009

Primos Ramos

Eu devia ter uns 10,11 anos. Numa das tardes em casa da minha Tia Bela, a João fez-me um papagaio de papel com caninhas e com um Mickey pintado à mão. Eu gostava de subir e descer a correr as escadas do quintal até à cozinha e quando depois ficava com tosse e toda a suar, a Carolina preparava-me um pratinho de xarope de cenoura e açucar que estava sempre ali preparado para quando eu entrasse na cozinha. Acho que por isso, hoje em dia, prefiro salgados.
No quintal havia uma garagem misteriosa de um lado e do outro lado uns arcos enormes com umas gaiolas de rolas penduradas e uma mesas de madeira por baixo (acho que encontrei de tudo la guardado). Ao lado das gaiolas, numa outra garagem, faziam-se os ovos moles. Eu gostava de me sentar em cima dos sacos de açucar empilhados contra a parede e ficar a ver as senhoras mexer os caldeirões ao lume ou abrir o baú onde se guardavam as ostias em forma de peixinho, barril, charutos e conchinhas que depois se aparavam com uma tesoura muito velha, se enchiam de ovos moles e se molhavam com um pincel cheio de clara de ovo e açucar antes de serem levados a um forno de portas verdes que mais parecia um armário que outra coisa. Fascinava-me esta rotina. Fascinava-me a Ró. Aquela senhora silenciosa e sempre sentada numa mesa muito velha com uma gavetinha cheia de bugigangas que eu abria de vez em quando só para ver o que ela lá guardava: botões, alfinetes, papéis velhos...
No andar de cima a minha distracção era aquele corredor ao lado da escada de entrada que tinha mesmo na curva e ao lado da porta do quarto das meninas, um baú pequenino no chão cheio de colares e pulseiras e brincos e afins. Horas! Passei horas a tirar tudo para fora, a olhar, a experimentar, a tentar descobrir de onde vinham aqueles objectos de aspecto oriental. E mais à frente, adorava espreitar por debaixo da cama dos rapazes e ver os puzzles do Mordilo que lá estavam guardados. O quartinho de passar a ferro era outra perdição e na salinha de estar adorava ver as fotografias das pessoas que eu conhecia quando eram pequeninas. A cor já meio esbatida, meio cor de rosa meio amarelo e todas colocadas naquelas molduras arredondadas de plástico cor de laranja tao típicas daquela altura.
Na sala de jantar havia sempre After Eights na mesinha e quando eu chegava era sempre uma festa. Às vezes a minha tia abria uma portinha no tecto do corredor e saía de lá uma escada articulada que nos levava ao sotão.... ahhhh! Adoro sotãos! E adorava aquela escadinha de aspecto tao particular. Adoro as portas e as portinhas, as salas e salinhas de vão de escada, os baús, as gavetas, os cantinhos e recantinhos escondidos das casas antigas da minha infância.
A música que eu ouvi numa dessas tardes ficou e ficará para sempre associada áquela casa e à família dos meus primos Ramos. Deveria ser 1985. E era uma K7 - Stevie Wonder, Part Time Lover.

7 Comentários:

Blogger Joana Magana disse...

Hoje em dia dou gracas a Deus de nao ter nascido em Aveiro... oh meus deus que descricao mais dolorosa de cheiros e sabores... poupei a minha familia a ter de lidar com um grave problema de obesidade infantil!

20 de agosto de 2009 às 15:44  
Blogger rita disse...

:D AHAHAHAH!!

E nao te contei eu a metade da historia..
Digo-te so' o seguinte:
- estes meus tios tinham uma pastelaria
- a minha mae e a minha tia trabalhavam nessa pastelaria
- a parte de tras tinha uma entrada directa para a cozinha
- quando eu saia da escola ia sempre ter com a minha mae
- a pastelaria dos meus tios era considerada a melhor da cidade

....

queres mais? :)

20 de agosto de 2009 às 15:57  
Blogger Inginheiro disse...

Oh Dio!

A ler estas linhas, revivi os meus próprios passos pelas casas das vizinhas da minha infância...
O quartinha da costura em casa da vizinha da minha avó, com uma máquina de coser da Singer toda em ferro fundido negro, com um pedal enorme em baixo. Nunca consegui perceber como é que a agulha ia para cima e para baixo com aquele enorme pedal movido a um pé já de uma idade respeitável.
Um quartinho escuro sem janelas na casa de uma outra vizinha, onde não havia crianças, mas que por algum mistério tinham um tipo de videogame só com um joystick e um monitorzinho de uns 100x100 pixels (seria 1983 ou por aí, se calhar antes). Horas perdidas naquele quartinho sem janelas entretido com um jogo que hoje seria apelidado de repetitivo (para não dizer aborrecido, porque aborrecido não podia ser).
O sótão da casa de Barroselas. Com uma escada em caracol de madeira tão frágil que estava proibido de subir lá acima. Sempre que lá ia, devidamente acompanhado com o meu pai, aparecia alguma relíquia dos tempos de antão. Uma estatueta de um etrusco toda enferrujada. Como é que uma coisa dessas aparece num sótão onde ninguém vai desde 1960 no meio de uma aldeia do Minho? Mistério sem resposta.
A casa da tia Idalina, mesmo no meio do Porto, com um quintal coberto por uma videira. Um poste no meio do pátio para dar suporte à estrutura de metal onde se agarrava a vinha. Devo ter subido a esse poste umas 5.000 vezes (arredondamento por baixo, acho que foram mais).

Não são os sítios onde vivi. Esses são demasiado correntes, demasiado cheios de memórias, demasiado vistos em ocasiões demasiado díspares. São os sítios monotemáticos. Os quartos onde só se fazia uma coisa. Esses são os que ficam mais marcados.

Se queres saber uma coisa, estuda e compreende. Se te queres lembrar de alguma coisa para sempre, repete. Uma e outra vez. Sempre da mesma maneira. Repete. Repete. Treina e o teu cérebro não se esquecerá nunca.

Porque achas que sonhas com o andebol e porque é que eu sonho que nado, flutuando no ar, por entre gente que só sabe andar?

21 de agosto de 2009 às 10:22  
Blogger Joana Magana disse...

Curioso como acho um ponto comum nas nossas infancias: a escada de caracol. A da minha infancia fica em Alcaçovas na casa da minha avó Manela. Desde pequena que sempre que a subia pensava nos fantasmas que se escondiam no primeiro piso. A minha avó vive numa tipica casa alentejana com tabuas de madeira corrida. A escada range a cada passo criando uma verdadeira banda sonora de um filme de terror. No andar de cima tinha de se atravessar uma divisao inteira ate se chegar ao interruptor da luz. Para agravar o facto de eu ter medo do escuro, o Mano Nuno muitas das vezes estava escondido atras de uma porta ou de algum armário para me assustar! Ainda hoje olho para cima do ombro a subir aquelas escadas. Tudo isto porque estes espaços têm sons, cheiros e sabores que vão sempre ser os mesmos nas nossas memórias

21 de agosto de 2009 às 12:44  
Anonymous Anónimo disse...

Rita, fizeste-me também recordar tantos momentos bem passados em casa da Tia Bela.
E as barrigadas de ovos moles que apanhava com o Mané.

Bjs
Tio Batata

24 de agosto de 2009 às 13:52  
Blogger rita disse...

tio batata, espera entao pelos proximos posts.. tenho uns que te vais fartar de rir e de relembrar coisas!
vemo-nos para a semana! beijos

25 de agosto de 2009 às 18:35  
Anonymous Anónimo disse...

Ritinha,

Nem sabes como me soube bem ler este texto!
Não há duvida que recordar é viver. Recordar as pessoas queridas, as casas, os cantos, os cheiros, etc., etc.
Fico à espera de mais, abriste-me mesmo o apetite.
Muitos Beijinhos.
Luciana

28 de agosto de 2009 às 14:53  

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